Friday, July 3, 2009

O meu parto

Engravidei em Junho de 2006. Foi uma gravidez muito desejada e apesar de ter enjoado os primeiros 4 meses e de ter passado mal por causa de um dente foi a melhor fase da minha vida!
Durante a gravidez senti-me plena, forte, poderosa, cheia de vida. Descobri um mundo novo. Descobri o poder da mulher, descobri a magia e o acto espiritual que é ter um filho.
Durante a gravidez comecei a ler muito, a pesquisar, a aprender coisas novas mas confesso que ainda era muito insegura e não me soube validar o suficiente, não acreditava ainda no meu corpo como acredito agora.
Fiz muita meditação e visualização do parto. Escrevi o parto que desejava e todos os dias lia o que escrevi e meditava um pouco. Conversava muito com a minha filhota e enchi-me de pensamentos positivos. Fiz o meu plano de parto e quando entrei na maternidade entreguei-o. Na altura a médica até o recebeu e disse que iam tentar respeitá-lo mas não foi bem assim. Acreditei que foi o melhor que podia ter tido mas hoje já não penso assim, sei que podia ter sido diferente...muito!
Entrei em trabalho de parto ás 38 semanas e 5 dias de gestação. As contracções começaram levemente no dia 27 de Fevereiro e já no dia 28 ás 16 da tarde com contracções de 10 em 10 minutos entrei na maternidade. Estava com 4 cm de dilatação segundo a médica que me atendeu. Para começar tive de vestir a bela da batinha aberta atrás, é humilhante, faz-nos, pelo menos a mim fez sentir-me desamparada e desprotegida. De seguida, fui sozinha para a sala de dilatação mas antes deram-me os clisteres (que foram despejados na sanita...não me apetecia discutir com ninguém e optei por fazer assim) e quando voltei do wc disse a uma das enfermeiras que não tinham resultado e ela disse que não fazia mal nenhum. Não deixaram o meu marido acompanhar-me, por isso estive muito tempo sozinha na sala de dilatação, com o ctg ligado á minha barriga e senti-me tão mas tão sozinha que é indescritivel. As dores apertavam e ouvia as outras mulheres a gritarem. Eu só queria o meu marido mais nada.
As auxiliares e enfermeiras iam passando e examinando e sempre a perguntarem se queria epidural. Eu já tinha dito que não sabia, que se quisesse dizia mas continuavam a perguntar. Passado um tempo disse que sim e apareceu logo o anestesista. Foi fácil a parte de levar a epidural mas se o tempo voltasse para trás não voltaria a levar, mas isso fica para outro texto.
Sentia-me cansada e só me apetecia estar dentro de mim própria, sem ouvir ninguém, sem ninguém me dizer nada. Passado um bocado as dores voltam e depois de muito pedir para o chamarem lá aparece o meu marido. Comecei a sentir uma enorme vontade de fazer força e lá fomos para a sala de parto cheia de luzes amarelas, tão fria e impessoal. De resto pareceu-me tudo muito rápido, a mim só me apetecia fazer força e sentia-me quase sem controlo mas a enfermeira lá me ia dizendo faça força agora, agora não, agora sim...e eu obedecia. Fizeram-se a episiotomia e mais uma forcinha e nasceu a minha morena que veio logo para o meu peito e olhou para mim com aqueles olhos negros e profundos. Foi maravilhoso! Sentir o seu corpinho quente e molhado, o cheiro a nós...os três juntos, a nossa familia. Eu chorei, ri, eram muitas emoções á minha volta. Nunca mais esqueci a primeira vez que vi a minha filha, a carinha dela, ver as suas mãos, os pés se era perfeitinha. Linda!
De resto fui tratada com carinho pelas enfermeiras e auxiliares mas sei que não fui tratada na minha verdadeira condição de mulher que sabe parir a sua cria. Fui tratada como uma paciente com paternalismo e não com a dignidade que uma mulher merece ter nesta hora maravilhosa e única que é ter um filho! sim! porque fui eu que tive a minha filha! eu! não as enfermeiras!
O meu marido? maravilhoso, foi a minha "doula" sem dúvida!
Agora sei, sei que se tudo correr bem o próximo filho vai nascer de forma muito diferente. Tenho a agradecer á minha filhota linda, porque foi ela que me deu a conhecer este mundo pelo qual me apaixonei que é a gravidez e o parto.

"Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer" M. Odent

Raquel

5 comments:

  1. parabens pelo teu post!
    sem duvida que precisam de respeitar mais a mulher nestas alturas...
    como eu concordo contigo...
    ainda tenho esperanças de com a ajuda aqui do Rodrigo surpreenda tudo e todos,especialmente o pai que não preciso de fazer cesariana,só porque já tenho 2 e uma operação ...
    deus é grande e tenho uma força enorme de o ter da forma mais natural do mundo!
    jinhos
    e obrigada por partilhares esses momentos tão lindos

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  2. Só uma correcção minha linda engravidaste em Junho de 2006 :D
    Em 2007 já ela estava nos teus braços :)

    BJs

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  3. Kel, cmo já sabes eu passei pelo mm e da 2ª já n caí no mm erro! ;o) O meu 2º filho nasceu em casa e digo q n há palavras p descrever correctamente esse momento, as sensações, a magia... Tudo se torna maravilhosamente REAL!

    Eu, tal cm tu, descobri o poder da mulher, de parir qd tive o 1º filho e sei, q podemos tudo (salvo poucas excepções)...

    Bjinhos

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  4. Olá Kel!
    :-)
    Gostei muito de ler o teu relato!

    Quando falaste em criar este blog, eu fiquei muito contente, precisamente porque ia poder falar com quem me percebesse sobre estes assuntos...

    Eu não tive uma gravidez pacifica, como sabes, perdi o gémeo do Afonso... eu destestava ir ao hospital, porque nunca me sentia acarinhada... talvez ver mulheres a perder filhos sejam muito normal para quem lá estava, mas para mim, na minha primeira gravidez, ficar eufórica porque ia ter gémeos e depois ficar sem chão porque um dos meus filhos deixou de desenvolver, e porque havia a hipótese de poder abortar dos dois, não foi fácil... e ouvir essas coisas assim a sangue frio, sem explicações, sem porquês, foi doloroso...
    Felizmente, e graças a Deus, a posição do Afonso e da placenta dele, não deixou que eu abortasse do outro bébé que estava posicionado mais atrás...
    No parto apesar de ter sido bem tratada e ter tido o meu marido sempre comigo, eu sentia vontade de gritar... e fui bastante criticada, disseram inclusivé que se eu não parasse quieta com as pernas (só porque fazia um pouco de pressão) me iam prender à cama...

    No final tudo valeu a pena, mas se pudesse mudar, claro que tinha mudado imensas coisas...

    Beijo!

    Sandra

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  5. Bem amiga que bem me soube recordar a tua gravidez :)
    adorei o teu relato e já falámos sobre isto, é verdade não foi 100% como querias que fosse mas agora tens instumentos para mudar o teu próximo parto e os partos das tuas amigas, conhecidas e clientes.
    Por isso muita força e espalha o respeito pelo parto e pela grávida pelo mundo todo :)
    Bjs
    Alice

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